Para apresentar um abrangente estudo com um amplo quadro sobre a educação básica no Brasil, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o Serviço Social da Indústria (SESI) e o Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento (PNUD) realizaram, nesta quarta-feira (4) em Brasília, o “Seminário Internacional Combate à Evasão Escolar no Ensino Médio – Desafios e Oportunidades”. O evento recebeu o apoio do Conselho Nacional do SESI (CNSESI), prestigiado com a presença do superintendente-executivo, Wagner Pinheiro, e da gerente de planejamento gestão e fiscalização, Fanie Ofugi.
O evento contou com especialistas da área, que compartilharam suas experiências como gestores e técnicos. No discurso de abertura, o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio, denominou o fenômeno da evasão como uma “mazela”, classificando o problema como “um escândalo” que aprofunda a divisão social do Brasil. Eduardo Eugênio disse ainda que essa ação serve para despertar a sociedade para a problemática.
O superintendente-executivo do CNSESI analisou os números e entendeu a dimensão dos desafios. Wagner Pinheiro afirmou que essa iniciativa da FirjanSESI e PNUD deve ser celebrada, em virtude da importância do estudo na formulação de estratégias para enfrentamento. “Essa iniciativa traz luz a um enorme problema que vivemos no país. É um diagnóstico claro, com propostas robustas para ajudar a enfrentar e diminuir a evasão no ensino médio”.
O relatório apresentado durante o seminário traça um diagnóstico da evolução do abandono escolar e evasão no ensino médio ao longo dos anos. O mesmo estudo mostra o impacto negativo nas famílias causado pelo fenômeno do abandono da escola, indo além disso. O diagnóstico revelou que, ao longo da vida, o jovem que não conclui o ensino médio deixa de receber em média R$ 154 mil. Esse resultado está relacionado ao elevado tempo em que o indivíduo passa desocupado e a baixa qualificação, o que leva a remunerações inferiores no período de vida produtiva.
A professora Andrea Marinho, especialista em planejamento estratégico em educação e coordenadora do projeto pela Firjan, enfatizou que o estudo tem como objetivo municiar gestores de informações e conteúdo para combater a evasão de jovens do ensino médio. Andrea defende que a intervenção deve ser intensa: “A literatura econômica mostra que o nível de qualificação ou de educação de um povo é diretamente correlacionado ao desenvolvimento de um país”.
No quadro geral, estima-se que o custo total de cada jovem evadido chega a R$ 395 mil, considerando os efeitos indiretos gerados, como a piora do estado de saúde da pessoa e o aumento da criminalidade. Portanto, anualmente são R$ 220 bilhões de reais perdidos, o que equivale a 3,3% do PIB brasileiro.
O diretor de Políticas e diretrizes da educação integral básica da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação, professor Alexsandro do Nascimento Santos, fez um resgate histórico do ensino médio no Brasil, enfatizando a intervenção que ocorreu em 2006, quando essa etapa educacional recebeu atenção especial do Governo Federal.
O professor lembrou que naquela ocasião as matrículas do ensino médio nas escolas públicas foram triplicadas a partir daquele ano, considerando a média em 20 anos. Sobre os desafios para melhorar o ensino médio e superar os problemas estruturais físicos e pedagógicos, explicou que as propostas de solução devem considerar os diversos aspectos sociais que existem no Brasil.
Um compilado de experiências exitosas de redução da evasão escolar ajuda a compor o amplo diagnóstico da situação nacional. Os especialistas também criaram cadernos temáticos, que são guias para implementação de ações, lançados durante o seminário e apresentados pelo PhD em economia, pesquisador do PNUD, Victor Pereira. A apresentação ocorreu no painel “Políticas de Combate à Evasão Escolar”.
Os cadernos abordam os seguintes temas: apoio às aprendizagens, apoio ao aluno na transição para o ensino médio e sua permanência, transição para o mundo do trabalho, propostas de ambientes de aprendizagem e inovação curricular, além de apoio à gestão escolar e valorização da formação docente.
O pesquisador Victor Pereira enalteceu o trabalho que o Serviço Social da Indústria desenvolve na educação do país, com apoio do Conselho Nacional do SESI. Especificamente sobre o raio-x da evasão escolar exposto no estudo, considera que esse trabalho da Firjan SESI é fundamental para a sociedade perceber que existe uma possibilidade concreta de diminuir o gargalo da evasão. “A evasão escolar significa a morte da vida escolar de um estudante”, arrematou o pesquisador.
No painel "Experiências Inovadoras de Combate à Evasão Escolar no Ensino Médio", foram apresentadas experiências nacionais e internacionais identificadas no repositório de boas práticas, um compilado de vivências positivas no ambiente pedagógico. O cases podem servir de referências para a elaboração e implementação de políticas de combate à evasão escolar.
O professor estadunidense Anthony J. Watson, diretor nacional do programa “Becoming a Man” (em português: “Tornando-se um Homem”), apresentou a experiência exitosa da organização não-governamental Younth Guindance, que atendeu só em 2022 cerca de 14.000 jovens em 184 escolas.
As ações são focadas na orientação juvenil, concentradas na implementação de programas escolares que ajudam crianças superarem obstáculos da vida. O trabalho é realizado nos Estados Unidos e na Inglaterra. O público-alvo é composto de alunos do 6 º ao 12º ano que foram expostos a fatores estressores, traumáticos que enfrentam desafios comportamentais, cognitivos ou emocionais.
A Younth Guindance realizou uma pesquisa onde ficou constatado que foi registrada uma taxa de retorno de US$ 30 para cada US$ 1 investido no programa “Becoming a Man”. Anthony finalizou sua apresentação afirmando que é importante que se entenda aquilo que o jovem está sentindo e criar um ambiente amigável para que os jovens permaneçam na escola.
Outras experiencias exitosas e uma vasta gama de dados foram apresentadas pelos participantes e podem ser acessadas em qualquer momento, por meio do link: www.youtube.com/watch?v=dWRz5ufGO6w .
Especialistas e gestores comprovaram que é possível reduzir a evasão e as desigualdades educacionais no Brasil e fortalecer o desenvolvimento socioeconômico, com programas baseados em dados e experiências empíricas. Com a realização desse seminário e a divulgação das experiências bem-sucedidas, desvenda-se um horizonte de propostas concretas para enfrentar a evasão escolar no Ensino Médio no Brasil.