A programação do primeiro dia do Seminário Internacional nesta terça-feira (3), na
Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), foi marcada por debates relacionados ao papel da EJA no Brasil, considerando o impacto da modalidade para o desenvolvimento econômico e social do país.
O presidente do
Conselho Nacional do SESI, Fausto Augusto Junior, participou do painel “Potencialidades da EJA no mundo atual”, ao lado da conselheira do Conselho Nacional de Educação (CNE), Cleunice Rehem, do gerente de Educação Básica do SESI, Leonardo Lapa, e do especialista de Desenvolvimento Industrial na EJA do SESI, Jaime Vieira, que foi o mediador do debate.
Fausto defendeu uma transformação estrutural da EJA, com foco em sua conexão com os contextos reais da vida dos trabalhadores.
“A educação é para a vida, na qual o trabalho está inserido e sempre estará inserido e transformado”, afirmou.
Presidente Fausto Augusto Junior durante o Seminário Internacional SESI de EJA. Foto: José Somensi / FIESCÉ essencial compreender, de acordo com o presidente, que a EJA atende, prioritariamente, trabalhadores que estudam — e não estudantes que trabalham. “Temos que romper com um problema muito sério. Quem vem da educação, estuda educação e desenvolve política educacional, muitas vezes esquece que a educação escolar é apenas uma etapa. O centro da vida das pessoas é a produção da própria vida”, declarou Fausto.
Ele reforçou que o processo educativo deve acompanhar a realidade, o tempo e os espaços cotidianos do trabalhador.
Ao citar o modelo da Nova EJA SESI, destacou o reconhecimento de saberes e a vinculação entre escolaridade e qualificação profissional como caminhos possíveis para enfrentar esse desafio.
Para Fausto, a EJA deve estar sintonizada com o mundo do trabalho e com as transformações tecnológicas que moldam a vida da juventude. “A EJA tem a obrigação de estar alinhada a isso — e talvez esse seja nosso maior desafio.”
A conselheira do CNE, Cleunice Rehem, destacou a ampliação de políticas públicas voltadas à EJA. Ela alertou para o baixo número de matrículas e para a ausência de integração entre a educação básica e a qualificação profissional na maior parte da oferta de EJA no país.
Segundo Cleunice, em 2024, o Brasil registrou 2.391.319 matrículas na modalidade, número aquém do necessário diante de uma demanda potencial de 68 milhões de pessoas com mais de 18 anos que não concluíram a educação básica. “Vejam que decresceu um pouco em 2024”, observou. Dentre esse público, cerca de 9 milhões têm entre 18 e 29 anos.
Ela também abordou ainda que 99% da oferta de EJA no Ensino Fundamental e 96% no Ensino Médio não estão articuladas com a educação profissional, o que limita as possibilidades de formação para o mundo do trabalho. Para Cleunice, é preciso romper com o paradigma tradicional e investir em modelos inovadores que integrem educação, trabalho e práticas sociais.
Cleunice Rehem durante apresentação no painel. Foto: José Somensi / FIESCDoutora em Ciências da Educação, Cleunice citou o exemplo da Nova EJA SESI como uma referência para o Brasil e para o mundo. Ela ressaltou a metodologia de reconhecimento de saberes como etapa prévia à entrada do estudante e, também, a oferta flexível de atividades em diferentes ambientes de aprendizagem — inclusive dentro das próprias indústrias — e o currículo conectado à realidade dos alunos. “Podemos estar aqui e trabalhar para o Japão, para os Estados Unidos, para a União Europeia, para a África e vice-versa”, afirmou, ao comentar o cenário globalizado e a necessidade de formação compatível com esse contexto.
A conselheira também enfatizou que a EJA é uma ferramenta de superação do analfabetismo, democratização do acesso à educação, empoderamento, inclusão social e desenvolvimento econômico. “Nunca é tarde para aprender e construir um futuro melhor. A EJA é a porta para um novo capítulo, onde a educação transforma vidas e abre caminhos para o sucesso.”
O gerente de Educação Básica do SESI, Leonardo Lapa, falou sobre o impacto da EJA em questões como segurança pública e desenvolvimento econômico e social. “Uma EJA bem aplicada e com maior participação da população pode remediar e auxiliar em um país mais seguro, desenvolvido e equitativo”.
Com a atuação do SESI também no sistema prisional, Lapa relembrou uma visita técnica a uma escola instalada dentro de um presídio, onde ouviu de um detento que, em sua realidade, só havia dois caminhos possíveis: o da pobreza ou o da criminalidade. A EJA, segundo ele, representa uma terceira via.
“No sistema prisional brasileiro, todas as pessoas que foram presas serão, em algum momento, reintegradas à sociedade. Com a EJA, elas têm a chance de retornar com os estudos concluídos e a perspectiva de construir uma nova trajetória”, afirmou.
Gerente de Educação Básica Leonardo Lapa apresentando a Nova EJA do SESI. Foto: José Somensi / FIESCO educador mostrou que, atualmente, a EJA do SESI está presente em 26 unidades federativas no Brasil, e obteve, em 2024, mais de 112 mil matrículas, com 71% de aprovação - 2,5 vezes mais que a aprovação da rede pública (de aproximadamente 30%). Os dados comprovam que a EJA não para de crescer.
“Somos a quinta maior rede do país. O SESI conseguiu trazer mais pessoas para concluir o ensino básico, e com a parceria do CN-SESI e do Ministério do Trabalho e Emprego, com o SEJA PRO+, teremos um crescimento contínuo nessa modalidade, atingindo cada vez mais cidades brasileiras”, fortaleceu Lapa.
Este crescimento e maior adesão à modalidade pode ser explicada pelos diferenciais da EJA no SESI. Valorizando a trajetória e particularidade de cada pessoa que precisou abandonar o ensino básico em algum momento de sua vida, o SESI aplica o Reconhecimento de Saberes (RDS) para estruturação do currículo. O RDS consiste na valorização das experiências de vida, focando apenas nas competências a serem desenvolvidas, resultando na possibilidade de finalização do curso em menos tempo.
Além disso, segundo ele, a instituição elaborou materiais próprios que se adequam à realidade e respeitam as particularidades de cada aluno e aluna, valorizando um currículo por competências.
“Essas iniciativas e ações deixam a EJA muito mais flexível e atrativa, de modo que as pessoas possam terminar seus estudos de forma mais rápida, e com o adicional de sair com uma formação profissionalizante”, concluiu o educador.