Em agenda dedicada à valorização da educação e dos saberes tradicionais, o Conselho Nacional do SESI, a Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA) e o SESI Pará participaram, nos dias 15 e 16 de abril, de atividades em escolas e em uma aldeia indígena nos municípios de Altamira e Vitória do Xingu, no Pará.
No dia 15, a comitiva esteve na Escola Kirinapan Kuruaya, no bairro Tavaquara, para realizar a entrega de kits de robótica educacional a estudantes das comunidades indígenas Xipaya, Kuruaya, Juruna e Parakanã, além de filhos de ribeirinhos e pescadores da região.
A ação, marcada por escuta, celebração e reconhecimento, reafirmou o compromisso do SESI com uma educação que valoriza a diversidade, respeita os territórios e integra tecnologia com identidade cultural. Crianças e jovens da escola realizaram apresentações de danças tradicionais indígenas, em um momento de acolhimento e afirmação simbólica do protagonismo dos povos originários da Amazônia.
Esse protagonismo foi representado pelas lideranças Lili Chipaia e Cláudio Kuruaya Cambuí, que estiveram presentes na cerimônia. Em entrevista ao SESI, eles contam a luta de seus povos por direitos e educação.
Lili Chipaia é professora e gestora educacional. Com uma atuação de 28 anos na Educação Escolar Indígena, integra o Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (FNEEI) e atua como secretária executiva da Comissão Gestora do Território Etnoeducacional do Médio Xingu (CGTEEMX) e conselheira no Conselho Estadual de Políticas Indigenistas do Pará (Consepi).
“A educação tem sido fundamental para a resistência da identidade sociocultural de meu povo e dos povos indígenas do Brasil”, afirma. “É por meio da educação que o povo indígena encontra o ressignificado da luta e da resistência para o fortalecimento e a manutenção de seus processos históricos de etnossaberes e etnofazeres, bem como a revitalização de suas línguas e suas pluralidades interétnicas e culturais.”
Ela explica que encontros e intercâmbios são realizados anualmente em parceria com o povo Yudjá, da região do Xingu (MT), para fortalecer a língua e a cultura Xipaya.
“A escola tem um papel fundamental na função social de uma comunidade e é por meio dela que aprendemos que podemos ser duplos cidadãos, em face a combater o racismo, o preconceito e a discriminação sofrida por nós ao longo dos séculos.”
O presidente da Associação Indígena Nativa Kuruaya de Altamira (Kuiri), Cláudio Kuruaya Cambuí, destacou o papel do movimento indígena na consolidação do bairro Tavaquara, em Altamira (PA), resultado de um longo percurso em defesa do reconhecimento territorial.
Segundo ele, o território tradicional ocupado pela cidade abrigava, desde o período colonial, os povos indígenas Xipaya, Kuruaya e Juruna. “Perdemos o nosso território para os brancos, mas seguimos lutando. O bairro Tavaquara é fruto dessa mobilização", disse.
Cláudio destacou que o bairro, hoje consolidado, abriga pescadores, ribeirinhos e indígenas reassentados que viviam em áreas alagadas. A construção incluiu escola, vias e equipamentos urbanos que valorizam a identidade local. A escola recebeu o nome de Kirinapani Kuruaya, matriarca Xipaya, e homenageia também os povos originários com grafismos e nomes indígenas em ruas e avenidas.
“Conseguimos manter esse vínculo com o rio, essencial para os pescadores indígenas, e agora buscamos novos avanços”, explicou. Ele anunciou ainda parcerias para novos projetos educacionais, como cursos de informática, música e o Projeto Peixinho, em articulação com a Prefeitura, além do apoio do SESI com a robótica.
Apoio aos povos da Amazônia

O SESI tem fortalecido seu compromisso com a educação e a inclusão ao apoiar comunidades indígenas do Pará por meio de iniciativas de robótica educacional.
A atuação contempla o fornecimento de kits tecnológicos e suporte técnico às equipes formadas por estudantes indígenas, promovendo o desenvolvimento de competências em ciência, tecnologia e inovação, sem abrir mão da valorização cultural e dos saberes tradicionais.
Para o presidente do Conselho Nacional do SESI, Fausto Augusto Junior, a iniciativa traduz uma visão de futuro comprometida com a equidade e com a valorização da diversidade cultural brasileira.
“A ação reforça o compromisso do SESI com uma educação inclusiva, inovadora e conectada ao futuro, respeitando a diversidade cultural da região amazônica e ampliando oportunidades para crianças e jovens”, afirmou.
Presidente da FIEPA, Alex Carvalho, aponta que as visitas às escolas indígenas representam uma oportunidade valiosa de aproximação entre o SESI e a cultura dos povos originários.
“O SESI vem desenvolvendo um trabalho de grande qualidade, atuando como um agente de transformação nesses territórios. É uma atuação que resgata as raízes culturais, valoriza a ancestralidade e, ao mesmo tempo, incorpora elementos de inovação, como a robótica educacional”, afirmou.
O superintendente do SESI Pará, Dário Lemos, afirmou que o apoio da instituição aos povos indígenas demonstra que o SESI está no caminho certo ao promover inclusão, cidadania e apoio à educação de qualidade.
“A robótica é uma ferramenta educacional poderosa, capaz de transformar a vida dessas crianças e desses jovens. Vamos continuar levando o SESI aonde ninguém chega e, assim, seguir transformando a vida dessas pessoas e de suas comunidades.”
Também participaram da entrega dos kits de robótica o prefeito de Altamira, Loredan de Andrade Mello, o superintendente de Relações Institucionais da Norte Energia, Eduardo Camilo; o gerente de Sustentabilidade da Norte Energia, Thomas Sottili; a presidente da Associação Comercial e Industrial de Altamira (Aciapa Altamira), Edna Lorasqui; a coordenadora de Políticas Educacionais do município, Eloisa Delgado; o diretor do SENAI Altamira, João Melo; e a gerente da unidade SESI Altamira, Iracy Silva de Melo, entre outras autoridades.
SESI e SENAI em Altamira
Visita à unidade do SESI em Altamira (PA) | Foto: Arthur Corrêa/FIEPA
A comitiva do Conselho Nacional do SESI visitou as unidades do SESI e do SENAI em Altamira, referências em educação básica, profissional e tecnológica no sudoeste do Pará.
Na escola do SESI, localizada em uma das regiões mais desafiadoras da Transamazônica, a diretora Sandra Soares apresentou os resultados obtidos por meio de uma proposta pedagógica ativa, inclusiva e profundamente conectada à realidade local.
“Hoje atendemos 1.003 alunos, da educação infantil à EJA, em parceria com a prefeitura de Altamira. Somos líderes no Ideb – o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – em diversas edições no município, além de tricampeões no concurso da Controladoria-Geral da União (CGU)”, afirmou.
Sandra também ressaltou o papel central da robótica educacional. “Ela está no núcleo da nossa metodologia e tem sido uma ponte entre os saberes tradicionais e a tecnologia, especialmente nas comunidades indígenas da Tavaquara e da Aldeia Juruna. Nossos estudantes aprendem física, engenharia, trabalho em equipe e cidadania – competências essenciais para os desafios do presente e do futuro.”
Na unidade do SENAI Altamira, o grupo foi recebido pelo diretor João Melo, que apresentou as frentes de atuação voltadas à formação profissional para a indústria local e o fortalecimento da empregabilidade entre jovens da região.
“O SENAI Altamira atende 10 municípios, levando qualificação, educação profissional e contribuindo para o desenvolvimento da região. Muitos profissionais de empresas, como a Equatorial, a Enservi, e empresários da cidade, passaram pelo SENAI. Nesses 48 anos, formamos mais de 100 mil pessoas, o que mostra a nossa importância para a região, possibilitando a oportunidade de acesso ao trabalho.”
Povo Juruna, robótica e saberes

CN-SESI, FIEPA e SESI-PA na Escola Indígena Francisca de Oliveira Lemos Juruna, em Vitória do Xingu (PA) | Foto: Arthur Corrêa/FIEPANo dia 16 de abril, a comitiva visitou a Aldeia Boa Vista, do povo Juruna, localizada no município de Vitória do Xingu (PA), na região da Volta Grande do Xingu.
O momento marcou um reencontro simbólico: em março, durante o Festival SESI de Educação, em Brasília, o presidente do Conselho Nacional do SESI, Fausto Augusto Junior, havia conhecido a equipe Jurunabots, formada por estudantes da Escola Indígena Francisca de Oliveira Lemos Juruna. O grupo une cultura ancestral e inovação tecnológica em projetos de impacto socioambiental, como jogos educativos voltados à conscientização sobre o plástico nos rios.
A visita à aldeia reafirmou o compromisso com a escuta ativa e com o respeito aos modos de vida tradicionais. As lideranças locais apresentaram suas demandas e reforçaram a importância de políticas públicas e educacionais que reconheçam os saberes indígenas como parte estruturante do desenvolvimento sustentável da Amazônia.
“Reencontrar o povo Juruna aqui, no território onde pulsa sua cultura e sua história, é mais do que simbólico — é essencial. Quando conheci os jovens da equipe Jurunabots, em março, vi o quanto inovação e ancestralidade podem caminhar juntas. Hoje, ao pisar nesta aldeia, essa percepção se torna ainda mais profunda. O SESI tem o dever de aprender com os territórios e de contribuir para que a educação dialogue com as raízes, respeite os modos de vida e amplie horizontes sem apagar trajetórias. Estamos aqui para escutar, apoiar e caminhar juntos”, declarou Fausto Augusto Junior.
O cacique Fernando Juruna, da Aldeia Boa Vista, destacou o impacto da parceria com o SESI no fortalecimento da cultura indígena e na valorização da juventude local. Segundo ele, o apoio da instituição tem ampliado a visibilidade da comunidade Juruna e estimulado ações concretas voltadas à educação e à identidade do povo.
Ele ressaltou a importância da robótica educacional na trajetória dos estudantes, especialmente com a criação das equipes Jurunabots e Yudjatech. “Agradeço ao SESI por acreditar no potencial dos nossos alunos. Essa parceria com a robótica é uma oportunidade de mostrar ao mundo quem somos e o que somos capazes de construir a partir da nossa cultura”, afirmou.
Entrega dos kits de robótica na Escola Indígena Francisca de Oliveira Lemos Juruna, em Vitória do Xingu (PA) | Foto: Arthur Corrêa/FIEPACarol Juruna, estudante da Escola Indígena Francisca de Oliveira Lemos Juruna, abordou a importância da educação e da robótica para a comunidade. “Muitas pessoas acreditam que nós, por sermos povos indígenas, não podemos avançar ou que não temos potencial para atuar com robótica, e agora temos a oportunidade de mostrar que podemos estar nesses lugares e que temos muito potencial com nossas equipes Jurunabots e Yudjatech.”
O secretário de Educação de Vitória de Xingu, Grimário Reis, afirma que a parceria do município com o SESI possibilita a melhora na qualidade do ensino, trazendo a robótica como um diferencial na educação indígena. “A robótica é um divisor de águas na vida dos estudantes. Esse movimento de trazer a robótica para as escolas fez o interesse dos alunos pela educação dobrar, e isso é muito importante porque impacta diretamente na melhora da qualidade do ensino e do aprendizado”, disse.
Para o presidente da FIEPA, Alex Carvalho, essas ações são fundamentais para preparar as novas gerações e impulsionar o desenvolvimento regional. “Formar pessoas para o futuro é o que vai transformar o estado em um lugar de oportunidades e riquezas. A equipe de educação do SESI Pará tem desempenhado um papel fantástico, motivo de muito orgulho”, concluiu.