O Conselho Nacional do SESI realizou nesta quarta-feira (19/2), em São Paulo, a 2ª Roda de Conversa - O Conselho Quer Ouvir, desta vez com o tema “Juventudes e Mundo do Trabalho”. A atividade aconteceu no Pavilhão Bienal do Parque Ibirapuera e fez parte do evento “Trampos do Futuro”, promovido pela Fundação Itaú, com participação do SESI-SP.
Durante uma hora, alunos de três escolas do SESI-SP – uma da cidade de Tatuí e dois dos bairros paulistanos Ipiranga e Vila Leopoldina – debateram com o presidente do Conselho, Fausto Augusto Junior, os desafios das novas tecnologias, como automação e inteligência artificial, e a inclusão de grande parcela da juventude que é levada a abandonar os estudos.
“Temos cerca de nove milhões de jovens que não concluíram o ensino médio no Brasil. Para nós, construir essa ponte entre o mundo do trabalho e o mundo da educação é fundamental.”
A conversa foi mediada por Fernanda Mizuguchi Leite, analista técnica educacional do SESI-SP. Também participaram do bate-papo quatro professores do SESI, sendo dois deles ex-alunos da instituição.
O objetivo da Roda de Conversa - O Conselho Quer Ouvir é fortalecer a proximidade do CN-SESI de diferentes atores sociais, ampliando o debate sobre temas relevantes, sobretudo aqueles ligados à inclusão educacional e à qualificação profissional. A primeira ocorrência no final de janeiro, com o tema “Educação e Inclusão Social em Contextos de Vulnerabilidade”.
Para Fernanda, o tema escolhido para a segunda roda não poderia ser mais atual.
“Diante da revolução tecnológica que estamos vivendo na sociedade, é urgente conectar a escola com essa transformação, garantindo que a educação não apenas acompanhe, mas molde um futuro de inovação e aprendizado para esses estudantes, formando-os como cidadãos preparados para os desafios de um mundo em constante evolução.”
Escuta
No começo da conversa, Fausto Junior falou sobre a iniciativa do Conselho de divulgar o diálogo com a sociedade e conhecer as diferentes realidades do país. “ Estamos rodando o Brasil”, disse. “Nosso objetivo é ouvir um pouco das ansiedades e das dificuldades em diversos contextos, discutindo principalmente qual o futuro e o papel da juventude em um país que está mudando muito rápido e num mundo que muda mais rápido ainda”, explicou. Durante a interação com os alunos, Fausto lançou algumas questões. “Como podemos fazer uma escola melhor, mais receptiva e inclusiva, que valorize a construção dos espaços?”, questionou. “Como compartilhar conhecimento?”.
Já os alunos, em suas disciplinas, falaram um pouco de suas histórias nos cursos do SESI e do SENAI, e de como essas instituições mudaram suas vidas e de suas famílias, através do conhecimento e do ensino de qualidade. Eles destacaram o contato com as novas tecnologias, como nas aulas de desenvolvimento de sistemas e de robótica.
Foi o caso de Sophia Lima Tassin, aluna do SESI Ipiranga e integrante de uma equipe de robótica desde 2019. Durante uma roda de conversa, ela reflete sua trajetória e o impacto do aprendizado em sua vida.
“Desde o começo da equipe, sempre tivemos a ideia de que, antes de expandir projetos para outras comunidades, precisávamos primeiro suprir as necessidades nossas dentro da nossa escola. Por isso, criamos iniciativas como o Torneio Interno da FLL, um campeonato que permite que estudantes do Ensino Fundamental tenham um mês de treinamento e participem de um processo seletivo para integrar a equipe. Foi assim que eu entrei e, mesmo antes de ser selecionado, minha vida já tinha mudado completamente. Foi a realização de um sonho.”
Sophia também destacou como a robótica vai além da competição e pode transformar realidades. Ela anunciou um novo projeto da equipe, em parceria com o patrocinador Rockwell Automation, que contribuiu com a iniciativa Gear Up para Itabira (MG), cidade onde as escolas têm poucas condições de acesso à tecnologia.
“Estamos preparando kits educativos para enviar às escolas da cidade, com mensagens que incentivam os estudantes a explorarem o mundo da ciência e tecnologia. Nosso objetivo é mostrar que o aprendizado vai muito além da nossa equipe e pode impactar muitas vidas.”
Se por um lado a robótica abriu novos caminhos para Sophia, a programação foi o que despertou o interesse de Matheus Spesia, de 14 anos, aluno do SESI Tatuí. Para ele, o contato com a tecnologia dentro da escola foi o ponto de partida para descobrir sua vocação.
Desde que teve as primeiras aulas de programação no SESI, utilizando a ferramenta Scratch, Matheus percebeu que aquele universo ia muito além do aprendizado escolar.
“Isso acendeu uma faísca em mim que se tornou um fogo tão grande que acabou virando meu sonho. Esse sonho é o que me move. Poder programar os jogos que tanto gosto virou meu hobby, e agora anseio por ser um programador profissional no meu futuro”, disse.
Sem-sem
Ao encerrar a conversa, Fausto reforçou o compromisso do SESI e do Conselho com a construção de pontes entre a escola e o mundo do trabalho, e principalmente com a inclusão da grande parcela da juventude que é levada ao abandono dos estudos.
“Vocês devem ouvir muito falar do 'nem-nem', os jovens que nem estudam nem trabalham. Eu não gosto nada desse termo, porque isso dá a impressão que é uma escolha do jovem. Na verdade, o que temos são os 'sem-sem', ou seja, sem escolas e sem oportunidades de trabalho. Nosso papel é ajudar que tenha mais oportunidades de escola e mais oportunidades de trabalho”.
Nesse sentido, o presidente citou os cursos de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do SESI e o programa Pé de Meia, do governo federal.
Por fim, ele fez um convite para que os estudantes se interessassem mais pela atividade industrial, que tem papel central no processo de desenvolvimento dos países.
“A chance é que nós, do Brasil, tenhamos de sair de um país em desenvolvimento e virar um país de primeiro mundo, um país desenvolvido, passe pela indústria”, afirmou. “É só olhar para a China. Há 20, 30 anos, a gente chamava os produtos chineses de Xing-ling. Hoje a China produz inteligência artificial.”
Próximos passos
A iniciativa "O Conselho Quer Ouvir" seguirá promovendo debates sobre temas relevantes para a juventude e o mundo do trabalho. Novas edições da roda de conversa estão previstas ao longo do ano, com a participação de especialistas, estudantes e representantes da indústria.